Lembro da primeira vez que gostei de alguém a ponto de tentar uma aproximação. Tinha essa guria loira, linda. Havíamos sido apresentados uns dias antes em uma festinha na vizinhança. Consegui o telefone fixo dela, por uma amiga em comum do colégio (detalhe que poucos tinham celular naquela época). Peguei o telefone sem fio e fui até o jardim pra ter um pouco de privacidade, e liguei. A mãe dela atendeu, passou a ligação, fiz o convite pra irmos no cinema (o único da cidade). Pro meu azar, ela havia aceitado outro convite igual meia-hora antes, de um garoto que estudava comigo. Então tá né! Senti um leve engasgo dela ao contar aquilo, mas tudo bem. Hoje ela é casada e tem filhos, com aquele sortudo que à chamou antes de mim.
A vida também ou principalmente, é feita de negativas, e eu fui aprendendo aos poucos a me contentar e seguir. Por diversas ocasiões na infância e depois na vida adulta, nem cheguei a ser preterido, mas alguém chegou antes, conversou, convidou, conquistou, enfim teve a oportunidade primeiro de mostrar seu amor.
Por outro lado, alguém chegou antes, iludiu, persuadiu, influenciou negativamente, disse que deveria fazer certas coisas, e a pessoa foi lá e fez. Alguém chegou antes e magoou. Não que eu fizesse o mesmo, muito pelo contrário, mas a bagagem de decepções que as pessoas carregam é tão grande, que eu, um mero sonhador, apenas observo, e também me decepciono sem ter uma chance. Alguém chegou antes, fez todo um estrago, e abandonou quem eu cheguei a gostar, impossibilitando que essa pessoa pudesse de fato tentar algo novo, lidar com o emocional e se permitir tentar.
E por aí vai. Alguém deu o match antes no aplicativo, e pôde ter a conversinha, que mais tarde virou encontro. Já alguém teve coragem e chegou antes na balada, sortudo! E rolou!
Por mais adiantado ou dentro da pontualidade, é cruel estar atrasado.
